O rio Nilo que é o maior em extensão do mundo sempre esteve relacionado a civilização egípcia, remontando a época dos faraós. Abrange cerca de 10 países: Egito, Etiópia, Uganda, Ruanda, Burundi, Quênia, Sudão, Sudão do Sul, Tanzânia, República Democrática do Congo.
Convém mencionar que 85% do Nilo é proveniente de seu afluente Blue Nile que nasce na Etiópia, e o restante origina-se no Lago Vitória na Uganda, formando o outro afluente White Nile. Tais afluentes se juntam no Sudão e dão origem ao Nilo.
O rio é estratégico devido aos seguintes fatores:
responsável pela irrigação das terras que ficam às suas margens, onde destaca-se o delta do Nilo nas proximidades do Mar Mediterrâneo;
importante fonte de pesca para os egípcios;
possui relevância turística para o Egito, onde além dos passeios, os viajantes podem desfrutar de hotéis flutuantes;
fornece energia elétrica ao Egito, por meio da represa de Aswan;
fornece aproximadamente 90% da água potável para o Egito, sendo relevante também para o Sudão;
importante para o desenvolvimento das populações africanas que desfrutam de suas águas.
Nesse sentido, podemos perceber que o rio Nilo é estratégico para o Egito, e que historicamente detinha o controle do rio.
Em 2011 a Etiópia inicia a construção da barragem chamada Grand Ethiopian Renaissance Dam, que fornecerá energia elétrica suficiente para atender a demanda de toda a sua população e ainda poder comercializar o excedente, o que proporcionará melhor qualidade de vida para os etíopes e dinamizará a economia do país. Com isso, a represa torna-se estratégica para a Etiópia e motivo de orgulho nacional, devido ao que pode prover ao país, mas impactará no fornecimento de água para o Sudão e o Egito, tornando o governo etíope o controlador do fluxo de água para o Nilo.
Desde o início da construção da represa etíope, o Egito, Sudão e Etiópia têm se reunido, sem grandes avanços, com o intuito de chegar a um acordo que não seja prejudicial para os países. Com a barragem pronta e sem sucessos nas negociações, o governo etíope alertou que iniciaria o enchimento do reservatório, o que deixou os outros países muito incomodados, principalmente o Egito.
Nesse cenário, houve uma escalada na crise entre a Etiópia e o Egito, sendo cogitado o emprego militar por ambas as partes.
A disputa geopolítica está tendo a União africana (UA) como mediadora, mas o Egito e o Sudão apelaram ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, o que a Etiópia não concordou, pois prefere que a mediação seja conduzida somente pela UA. Os EUA têm tido uma pequena participação na mediação dessa disputa, mas alguns analistas afirmam que o governo estadunidense está sendo parcial, beneficiando o lado egípcio.
Atualmente, o Egito alega que reconhece o direito exploratório etíope, mas quer que o enchimento do reservatório seja prolongado no tempo, visando amenizar os impactos no país. O Sudão, por outro lado demonstra que a barragem poderá ser benéfica, pois seria favorecido pelo fornecimento de energia, bem como a represa poderá controlar as enchentes do Nilo em seu território.
Nesse ínterim, a Etiópia iniciou o enchimento da barragem, e nova reunião foi marcada para se chegar a um acordo. Informações revelam que Kenia, Ruanda, Tanzânia, e Uganda apoiam o governo etíope em seu direito de exploração, e são contra o controle egípcio do Nilo.
O Blog é de opinião que trata-se de uma disputa geopolítica relevante e que um conflito de larga escala entre o Egito e a Etiópia não é provável, pois a destruição da represa por parte do poderio militar egípcio poderia colocar como alvos para as forças etíopes as suas represas. Além do mais, não podemos esquecer do envolvimento do Egito na guerra da Líbia (apoia o governo ilegítimo), já abordada neste Blog. Sendo assim, em nossa análise o Egito teria muito a perder num conflito de alta intensidade. Podemos verificar que a geopolítica da região está sendo alterada, pois no passado o controle da água do Nilo estava nas mãos do Egito, e agora passará para a Etiópia. Portanto, acreditamos que poderá iniciar-se um período de cooperação entre os países envolvidos na questão.
Fica como aprendizado a importância de se diversificar as fontes de energia e de diminuir a dependência hídrica de outro país. Acreditamos que tal aprendizado seja importante, também, para o Brasil.
Seguem alguns vídeos para nos aprofundarmos no tema:
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