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A Finlândia poderá ser o novo objetivo militar russo?


Figura disponível em: https://ichef.bbci.co.uk/news/1024/cpsprodpb/9796/production/_124160883_natoexpansionmap.png

O conflito na Ucrânia trouxe novamente o temor de uma invasão russa aos países que lhe fazem fronteira e que não estão alinhados com o governo de Moscou, principalmente os que intencionam fazer parte da OTAN com o intuito de ficar sob o "guarda-chuva"de defesa da Aliança.

Convém mencionar que isso foi um dos motivos alegados pelos russos para justificar o ataque ao território ucraniano neste ano, e que poderá levar a um conflito duradouro.

Nesse sentido, tanto a Finlândia, quanto a Suécia, que possuem uma postura e política de neutralidade no continente europeu, passaram a ser ameaçados com uma possível retaliação russa, caso ingressem na OTAN. Assim, com a intenção de evitar essa possibilidade, Putin informou que poderá posicionar uma parcela de suas forças nucleares nas proximidades com esses países.

Dentre eles, a Finlândia é o que possui fronteira terrestre com a Rússia, cerca de 1.300 km, ficando mais vulnerável a um ataque terrestre direto, conforme podemos ver no mapa.

Figura disponível em: https://arte.estadao.com.br/uva/content/drafts/QG7peQ/7/uploads/fallback.jpg

Ao olharmos a história da Finlândia veremos que ela sempre esteve relacionada, direta ou indiretamente, com a Rússia, tendo feito parte do império russo (1809 a 1917), e tornando-se independente após 1917. Durante o período da II Guerra Mundial - II GM os finlandeses lutaram bravamente contra os soviéticos liderados por Stalin. Contudo, ao final, tiveram que ceder cerca de 11% do seu território, por meio de um tratado.

Após a II GM, os finlandeses decidiram adotar uma postura de neutralidade, e com isso não ingressou na OTAN e nem no Pacto de Varsóvia. Tal atitude, meticulosamente pensada, teve como propósito estabelecer uma coexistência pacífica com a ex-União Soviética - URSS durante a época da Guerra Fria, ou seja, visava a sobrevivência do Estado.

Entretanto, nesse período, os finlandeses, devido a sua geografia (proximidade com a ex-URSS), tinham, implicitamente, limitadas as suas decisões políticas, sendo todas muito bem calculadas, pois não queriam criar atritos com a potência militar da região, já que existia uma influência soviética nos assuntos internos finlandeses.

Dessa forma, a neutralidade finlandesa ficou famosa internacionalmente, cunhando-se em 1960 o termo "finlandization", que de acordo com o dicionário Merriam - Webster significa "a foreign policy of neutrality under the influence of the Soviet Union also: the conversion to such a policy", e que atualmente pode ser entendida como uma política externa de neutralidade imposta por um Estado mais forte sobre outro mais fraco. Tal termo voltou ao cenário internacional como uma das possíveis soluções para um acordo de paz entre russos e ucranianos, o que foi veementemente rejeitado pelo governo de Kiev, bem como duramente criticado pelos EUA.

É digno de nota que os finlandeses consideram o termo como uma espécie de ofensa, pois na época da Guerra Fria, foi a única alternativa viável para que a Finlândia não fosse dragada para a "cortina de ferro".

Após a Guerra Fria e o consequente colapso da União Soviética, os finlandeses aproveitaram a oportunidade de uma Rússia enfraquecida e robusteceram e modernizaram as suas forças armadas tendo, nos dias de hoje, uma das mais capazes da Europa Ocidental, bem como entraram para a União Europeia - UE, bem como estabeleceram um relacionamento estreito com a OTAN, realizando periodicamente vários exercícios militares combinados. Além disso, consolidaram a sua democracia e se tornaram realmente independentes, não sofrendo mais a influência de outro Estado, se sentido livres para decidirem o que for melhor para o país, inclusive no tocante a adesão de alianças.

Dessa forma, os finlandeses acompanham a situação político-militar russa com extrema atenção, bem como consideram a Rússia como a sua principal ameaça, o que pode ser entendido por meio do documento da inteligência militar finlandesa: "F I N N I S H MILITARY INTELLIGENCE REVIEW 2021", elaborado pelo poder militar desse país, e que pode ser lido no Blog no link https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_b3e26386b54546deb4256f12cdc23084.pdf, o qual sugerimos a leitura. Ele contém vários assuntos interessantes, como os exercícios realizados tanto pelo ocidente, quanto pelos russos em 2020, demonstrando a tensão entre as partes, bem como a situação militar no entorno finlandês.


A figura abaixo nos mostra uma breve comparação entre as forças finlandesas e russas:



Assim, o atual conflito na Ucrânia, aliado a ameaça russa em retaliar a Finlândia, inclusive militarmente, teve como consequência uma mudança na opinião dos finlandeses no tocante a entrada do país na OTAN, indo dos 28% favoráveis para os atuais 62%.

Figura disponível em: https://static.dw.com/image/61280276_401.jpeg

Portanto, essa é a primeira vez, desde a independência do país, que os finlandeses formam a maioria no apoio à entrada da Finlândia na OTAN, o que poderá fazer com que o governo de Helsinque solicite formalmente à Aliança a sua aceitação, o que na nossa visão terá aprovação imediata, em virtude do bom relacionamento político-militar com a Organização, bem como por ser integrante da UE, e de possuir uma democracia moderna e consolidada.

Destarte, vemos que os finlandeses perderam a oportunidade de ingressar para a OTAN logo após 1991, como fizeram os Estados Bálticos (Letônia, Lituânia e Estônia), e que agora com a Rússia novamente forte tornou-se um sério problema.

Entretanto, cabe pontuar que a Finlândia, por fazer parte da UE, teoricamente já estaria fazendo parte de uma estrutura de defesa coletiva, pois no documento "CONSOLIDATED VERSION OF THE TREATY ON EUROPEAN UNION", disponível no Blog em https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_f975983a08ba4683b4debc5843b17f55.pdf, em sua Seção 2 - PROVISIONS ON THE COMMON SECURITY AND DEFENCE POLICY, no artigo 42 é prevista a defesa mútua contra uma possível agressão a um dos Estados membros, desde que aprovada unanimemente no conselho da UE, tendo similaridades com o previsto no tratado da OTAN.

Logo, os finlandeses estariam protegidos, podendo ser, em nossa visão, uma das razões pela qual os russos também não queriam, no início, que os ucranianos entrassem para a UE, bem como não terem ameaçado anteriormente os Finlandeses. Entretanto, em que pese a existência dessa cláusula, pouco se aborda sobre o componente militar da UE, fazendo com que tenha pouca credibilidade, diferentemente da OTAN.

Nesse cenário, em nossa opinião, a entrada da Finlândia na OTAN será um claro desafio a Rússia, e que uma possível reação de Putin é totalmente imprevisível. Ademais, é importante salientar que a situação finlandesa é totalmente diversa da ucraniana, em virtude de:

- possuir forças armadas altamente adestradas e modernas, que contribuíram com a situação de neutralidade finlandesa no período pós Guerra Fria até os dias atuais;

- os finlandeses possuem um sentimento de nacionalidade bem mais consolidado e aguçado que os ucranianos, que o obtiveram, em nossa visão, após o episódio da Praça Maidan, que ficou conhecido como Euromaidan ou Primavera Ucraniana;

- a Finlândia vem se preparando a um longo tempo contra uma possível agressão russa, e atualmente está incrementando a sua defesa com mais afinco; e

- fazem parte de uma organização que já prevê a defesa mútua.

O Blog é de opinião que a aceitação da Finlândia na OTAN colocará certa pressão nos russos, e que uma reação militar de Moscou é imprevisível.

Dessa forma, em nossa análise, Putin não abrirá uma nova frente de batalha, e caso isso aconteça levará a Europa para um conflito generalizado. Portanto, acreditamos que as relações entre russos e finlandeses serão marcadas por tensões e crises constantes, com atos de demonstração de força militar russa.

Resta-nos acompanhar o desenrolar dos acontecimentos com atenção, que continua marcando a rivalidade entre a Rússia e o Ocidente.

Qual a sua opinião?

Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:

Matéria de 15/04/2022:

Matéria de 14/04/2022:

Matéria de 14/04/2022:

Matéria de 13/04/2022:

Matéria de 04/04/2022 - esse vídeo mostra o exercício Cold Response 2022 realizado entre a OTAN e alguns países convidados como a Finlândia e a Suécia. Foi realizado entre 18 de março e 02 de abril deste ano:

Matéria de 15/04/2022:

Matéria de 14/04/2022:

Matéria de 14/04/2022:

Matéria de 15/03/2022:

Matéria de 15/03/2022:


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