Em virtude da importância da Geopolítica Energética que, atualmente, está bastante relacionada com a Emergência Climática, o Blog vem acompanhando o tema por meio dos artigos disponíveis em sua Seção sobre o tema que pode ser acessado em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/geopol%C3%ADtica-energ%C3%A9tica.
Dessa forma, temos discutido o assunto na série de artigos intitulada "A Emergência Climática e os seus possíveis impactos na Geopolítica Mundial". Com isso, a nossa intenção é informar que essa questão tem um viés altamente estratégico para os Estados e, assim, vários alertas têm sido feitos para que o nosso Poder Político possa tratá-la com seriedade.
Nesse sentido, recomendamos a leitura dos seguintes artigos:
"Geopolítica do Petróleo está em declínio? A Geopolítica Energética está em transição?", de 01 de maio de 2020, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/geopolítica-do-petróleo-está-em-declínio-a-geopolítica-energética-está-em-transição, no qual afirmamos que as fontes de energia ditaram e ainda ditam a geopolítica mundial, como o poder de mercado dos atuais produtores mundiais de petróleo e gás. Além disso, dissemos que as fontes alternativas de energia são fundamentais para o meio militar, sejam nas missões de paz (onde as infraestruturas de energia das regiões das missões são muito deficientes), quanto na redução da dependência do fornecimento de petróleo estrangeiro para operar os seus meios (navios, aeronaves etc). Ademais, também afirmamos que elas contribuiriam para: minimizar a problemática climática, reduzir a dependência de importação estrangeira, diminuir a vulnerabilidade militar (aumento da segurança das tropas), permitir uma redução no custo da energia e incrementar a segurança energética dos países por possibilitarem uma matriz energética diversificada. Assim, apresentamos o trabalho escrito, em 2017, por este autor intitulado: EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E ENERGIA RENOVÁVEL - FATORES ESTRATÉGICOS PARA O BRASIL, que pode ser lido em: https://de9abb8c-83aa-4859-a249-87cfa41264df.usrfiles.com/ugd/de9abb_2d0c64f75134440fb067b5b3f4a99dd0.pdf ;
"A Emergência Climática e os seus possíveis impactos na Geopolítica Mundial", de 06 de outubro de 2020, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-emergência-climática-e-os-seus-possíveis-impactos-na-geopolítica-mundial, no qual falamos que a Emergência Climática afeta as operações militares, potencializa conflitos, pode iniciar tensões e crises entre Estados, pode ser causa de imigrações e impacta em maior grau os países mais pobres. Outrossim, dentre as nossas análises, afirmamos: que a Emergência Climática tem acelerado a transição energética das fontes de combustíveis fósseis para as alternativas, onde os Estados que se planejarem sofreriam um impacto menor; os governos que não adotarem políticas sustentáveis ou não demonstrarem que zelam pelos seus ecossistemas estariam sujeitos a pressões internacionais, por meio de sanções políticas e econômicas, ou até mesmo de pressão militar com a justificativa de se garantir a segurança e a paz internacional; que a Emergência Climática estaria afetando e continuaria a moldar as relações entre os países; e que algumas potências utilizariam esse argumento para atingir os seus objetivos geopolíticos;
"As Forças Armadas e a Geopolítica Energética: estamos dando a devida atenção estratégica?", de 03 de março de 2021, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/as-forças-armadas-e-a-geopolítica-energética-estamos-dando-a-devida-atenção-estratégica, apresentamos várias análises, dentre as quais destacamos: a variação do preço do barril do petróleo que é em dólar, e acaba sendo potencializada pela desvalorização da nossa moeda, o que impacta no valor do combustível, trazendo desafios para a nossa economia e consequências para as nossas Forças Armadas, fazendo com que o custo operacional dificulte, e por vezes inviabilize, a realização de exercícios e manobras mais complexas, em que uma das forças mais impactadas é a Marinha do Brasil, devido a necessidade dos nossos meios navais terem que patrulhar extensas áreas da Amazônia Azul; e que o tema nunca foi tratado de forma estratégica no nosso setor de defesa, pois até hoje não temos uma estratégia de Estado para diminuir a dependência dos combustíveis fósseis como fazem outros governos;
"Geopolítica Energética e a Emergência Climática: crises, tensões, conflitos e perspectivas", de 05 de fevereiro de 2022, disponível em https://www.atitoxavier.com/post/geopolítica-energética-e-a-emergência-climática-crises-tensões-conflitos-e-perspectivas, afirmamos que o uso da energia como forma de coerção, ou seja, a fonte energética é usada como uma arma contra os seus oponentes, bem como isso ratificaria a percepção do Blog sobre o surgimento de crises, tensões e conflitos motivados pela necessidade energética, o que exemplificamos pela Guerra da Ucrânia. Em nossas análises dissemos que: as energias alternativas vêm ganhando destaque no mundo, inclusive no nosso país, como a energia do futuro; temos observado grandes somas de recursos financeiros sendo investidas nessas fontes de energia, principalmente nas renováveis, sinalizando que a transição energética, que estamos vivenciando, caminha para elas; e que a Geopolítica Energética não pode ser dissociada da Emergência Climática, e que ambas são causadoras de tensões, crises e conflitos no cenário internacional, devendo serem tratadas de forma estratégica pelos Estados, inclusive na área de Defesa, tendo como foco a diversificação das suas matrizes energéticas. Portanto, o planejamento estatal de médio e longo prazos nessa diversificação é condição fundamental para a Segurança, Defesa e Desenvolvimentos Nacionais; e
"A Emergência Climática e os seus possíveis impactos na Geopolítica Mundial. Parte III: o desafio da atual transição energética", 25 de agosto de 2024, que pode ser lida em https://www.atitoxavier.com/post/a-emergência-climática-e-os-seus-possíveis-impactos-na-geopolítica-mundial-parte-iii-o-desafio-da, dissemos que a Emergência Climática está diretamente relacionada com atual Transição Energética, o que seria um desafio para os países emergentes que possuem grandes reservas de combustíveis fósseis e economias frágeis. Isso se justificaria, pois as fontes renováveis necessitam de grandes investimentos financeiros (modernização do sistema energético, como a implementação de fontes fotovoltaicas, eólicas etc; integração com o sistema de distribuição de energia; estabelecimento de pontos de recarga para os veículos elétricos) e tecnológicos (maior capacitação da mão de obra e desenvolvimento de novas tecnologias). Assim, apresentamos a Geopolítica do Baixo Carbono, em que os Estados que possuem melhores condições (econômicas e tecnológicas) de efetuar a atual transição energética tentariam manter a sua hegemonia geopolítica perante os demais, notadamente os países emergentes; mostramos a equação: Geopolítica Energética = Geopolítica do Petróleo + Geopolítica Baixo do Carbono, o que aumentaria a complexidade geopolítica do mundo atual; e o desafio brasileiro, que seria continuar dependente da Geopolítica do Petróleo não reagindo as mudanças que a atual transição energética impõe, e com isso seria muito impactado pela Geopolítica do Baixo Carbono, que está sendo usada pelos países desenvolvidos.
Portanto, podemos concluir a existência de uma estreita relação entre a Geopolítica do Petróleo, a Emergência Climática e a Defesa. Dessa forma, abordaremos, neste artigo, o impacto dessa relação nas Marinha de Guerra, notadamente a do Brasil.
Ao olharmos a história podemos ver como a transição energética impactou nas Marinhas de Guerra do mundo, principalmente quando estudamos a mudança dos navios à vela para os de propulsão à vapor, tornando-os mais independentes das condições naturais e permitindo serem mais poderosos.
Assim, ao longo do tempo, vimos as constantes evoluções dos navios sempre ditadas pelas tecnologias dos sistemas de propulsão e de geração de energia, possibilitando um protagonismo, cada vez maior, das Marinhas de Guerra no mundo, pois não podemos esquecer que a maioria do comércio mundial é feito no ambiente marítimo, donde se conclui que é fundamental a segurança das Linhas de Comunicação Marítimas - LCM. Recentemente, vimos o transtorno causado pelos Houthis durante os seus ataques ao tráfego mercante no Mar Vermelho, os casos de pirataria no Golfo da Guiné, a disputa geopolítica envolvendo o Mar do Sul da China, dentre outros exemplos.
Logo, como as Marinhas têm sido cada vez mais requisitadas, é lógico que haja um maior consumo de combustível para atender as suas missões, o que aumenta o custo e coloca o Estado refém de dois fatores: preço do combustível e dependência da produção/importação do petróleo.
Assim, é bastante lógico e razoável que os países, que pensam estrategicamente, tenham a preocupação de dotar as suas Marinhas de Guerra com um sistema de propulsão mais eficiente, econômico e, consequentemente, menos dependente da Geopolítica do Petróleo. Tal análise é aprofundada no meu trabalho EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E ENERGIA RENOVÁVEL - FATORES ESTRATÉGICOS PARA O BRASIL, citado neste artigo, em que são analisadas as Marinhas dos EUA e do Reino Unido.
Nesse contexto, conforme noticiado pela imprensa britânica, a Marinha do Reino Unido - Royal Navy (RN) - está estudando a possibilidade de dotar os seus navios com propulsão nuclear, pois somente os seus submarinos adotam essa propulsão, o que alinharia a Defesa com a estratégia governamental, chamada The Government´s "Net Zero Strategy", disponível em https://assets.publishing.service.gov.uk/media/6194dfa4d3bf7f0555071b1b/net-zero-strategy-beis.pdf.
Ainda com foco nas marinhas citadas no meu trabalho, a marinha dos EUA divulgou em 2022, a sua estratégia para redução dos gases de efeito estufa para 2030, conforme podemos ver no documento CLIMATE ACTION 2030, acessível em https://www.navy.mil/Portals/1/Documents/Department%20of%20the%20Navy%20Climate%20Action%202030%20220531.pdf?ver=3Q7ynB4Z0qUzlFg_2uKnYw%3d%3d×tamp=1654016322287. No vídeo abaixo podemos ver a divulgação da estratégia:
Assim, vemos que elas continuaram a pensar estrategicamente em relação a problemática apresentada. Existem outros exemplos, como a marinha canadense que incentiva estudos sobre o assunto, The Royal Canadian Navy Fleet: A Pathway to Decarbonisation, https://www.navalassoc.ca/wp-content/uploads/2021/12/Hodgkins-Decarbonization.pdf.
Convém mencionar que a Organização Marítima Internacional ou International Maritime Organization - IMO, que é uma agência da Organização das Nações Unidas - ONU responsável por regulamentar o transporte marítimo mundial que tem como objetivos gerais: promover a cooperação, garantir a segurança marítima, prevenir a poluição e remover obstáculos ao tráfego marítimo, estabeleceu, em 2023, uma resolução que implementou uma estratégia, chamada 2023 IMO Strategy on Reduction of GHG Emissions from Ships (2023 IMO GHG Strategy), visando diminuir, em pelo 40% até 2030, a emissão dos gases de efeito estufa, https://wwwcdn.imo.org/localresources/en/OurWork/Environment/Documents/annex/MEPC%2080/Annex%2015.pdf.
O vídeo a seguir nos mostra que a descarbonização do setor marítimo é uma tendência e imperativo mundial:
Nesse cenário, acreditamos que o desenvolvimento tecnológico dos navios mercantes contribuirá para mitigar a vulnerabilidade militar, apontada por nós nos artigos citados neste trabalho, que está relacionada com a necessidade logística de prover combustíveis fósseis (óleo diesel etc) para os navios das Marinha de Guerra.
Para tanto, o desenvolvimento tecnológico, citado acima, para atender a vertente militar naval deve levar em consideração alguns requisitos, como: a propulsão deve ser capaz de manter grandes velocidades por longos períodos; ter uma capacidade de acelerar e desacelerar rapidamente permitindo uma boa agilidade e manobrabilidade; ser reabastecido, caso necessário, no mar; possuir bastante robustez para aguentar os efeitos do combate; contribuir para a discrição do navio, em virtude da guerra antissubmarina; e possuir uma capacidade de armazenamento do combustível.
Portanto, é um desafio que acreditamos não ser de difícil solução, pois, ao vermos mais uma vez a história, tais requisitos sempre acabaram sendo atendidos ao longo do tempo.
A figura de ilustração do artigo nos dá uma ideia de futuro dos próximos navios de guerra, levando em consideração a tendência mundial de descarbonização do setor marítimo, que, em nossa visão, influenciará o Poder Naval. Cabe pontuar que a figura foi elaborada por meio do uso da Inteligência Artificial.
Assim sendo, acreditamos que o Ministério da Defesa brasileiro deveria estudar o tema, criando inicialmente uma política (o que fazer) que oriente a implementação de uma estratégia (como fazer) para que as nossas Forças Armadas, em especial a Marinha do Brasil - MB, possa pensar no futuro que está à vista, por meio de um plano de ação.
Entretanto, isso não impede que a MB desenvolva estudos, se possível, em parceria com a nossa Base Industrial de Defesa em relação ao desenvolvimento de combustíveis sustentáveis ou adaptações das atuais propulsões, que permitam uma flexibilidade em relação ao combustível utilizado, tendo como exemplo os carros flex.
O Blog é de opinião que estamos atrasados em relação ao tema, e mais uma vez seremos reativos, o que é uma lástima.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para auxiliar a nossa análise:
Matéria de 05/09/2024:
Matéria de 15/07/2023:
Matéria de 10/03/2023:
Matéria de 03/07/2023:
Comments