O Blog em sua Seção América e Atlântico Sul, disponível em https://www.atitoxavier.com/my-blog/categories/amer-e-atl-sul, acompanha a situação geopolítica da região, e no presente artigo tentaremos analisar se a mais nova crise política peruana poderá ocasionar alguma instabilidade na América do Sul, que faz parte do Entorno Estratégico Brasileiro.
No artigo "A crise peruana e os possíveis impactos geopolíticos", de 20 de novembro de 2020, que pode ser lido em https://www.atitoxavier.com/post/a-crise-peruana-e-os-possíveis-impactos-geopolíticos, dissemos que o Peru, desde 1990, vem enfrentando problemas políticos envolvendo os seus Presidentes e o Congresso, onde teoricamente têm acontecido alguns "golpes de Estado" com uma roupagem de legalidade, mas que se destinam ao atendimento de interesses políticos de certos partidos (como os fujimoristas), bem como aos interesses pessoais de alguns políticos relacionados a corrupção. Ademais, afirmamos que o aprofundamento do caos sócio-econômico pode ocasionar o ressurgimento dos grupos revolucionários armados Sendero Luminoso (ainda existem pequenos grupos que se associaram ao narcotráfico) e Movimento Revolucionário Túpac Amaru (a princípio extinto em 1997 com a morte dos seus integrantes), principalmente numa possível atuação na fronteira amazônica com o Brasil.
Em 2021, na nossa matéria "A eleição peruana e o retorno da esquerda na América do Sul", de 12 de junho, acessível em https://www.atitoxavier.com/post/a-eleição-peruana-e-o-retorno-da-esquerda-na-américa-do-sul, falamos que no partido de Castillo existiriam personalidades influentes relacionadas ao Movimiento por la Amnistía y los Derechos Fundamentales - MOVADEF, que seria, possivelmente, ligado ao grupo terrorista peruano Sendero Luminoso que possui ideologia marxista-leninista-maoísta. O MOVADEF é visto com certa cautela e apreensão por parte da sociedade peruana, pois muitos o consideram como pró-terrorismo. Além disso, falamos que é importante acompanhar o desenrolar dos acontecimentos nesse país, pois poderá ocorrer um caos interno de grandes proporções que poderá impactar na fronteira, como a migração de peruanos, e o surgimento de um governo populista e nacionalista que poderá ser alvo de potências estrangeiras, trazendo mais instabilidade para a América do Sul.
Durante o mandato do Presidente Pedro Castillo houve duas tentativas de tirá-lo do poder por meio de abertura de processos de impeachment, agravando a situação política interna, pois era nítida essa intenção dos partidos de oposição, que possuem o comando do congresso.
Apesar dos problemas internos do país, o Presidente possui maior popularidade do que o atual congresso, ainda mais porque ele representa uma parte da população que sempre foi esquecida e marginalizada, e que possui uma grande mágoa de Lima (capital do país), que é constituída pela elite dominante.
Dessa forma, em 07 de dezembro deste ano, Castillo declarou que estaria dissolvendo o congresso e estabelecendo um estado de emergência nacional, o que foi considerado como uma tentativa de golpe de estado (autogolpe) pela suprema corte do país, desencadeando um sumário processo de impeachment de Castillo (o terceiro) por parte dos congressistas peruanos. Convém mencionar que tanto as Forças Armadas quanto as de Segurança não apoiaram o Presidente, contribuindo para o fracasso de Castillo, e a sua consequente prisão.
Assim, podemos inferir que a tentativa de autogolpe de Castillo tinha como intuito evitar a sua destituição do poder, diminuindo o risco de sair do governo.
Nesse cenário, com a prisão de Castillo e a assunção de Dina Boluarte, o país entrou em grande instabilidade interna e estado de emergência, com os partidários do presidente deposto exigindo a sua libertação e novas eleições, mergulhando o Peru num caos, com a escalada da violência entre o governo e a população, ocasionando a morte de vários manifestantes.
Portanto, em nossa análise, essa atual crise peruana poderá impulsionar o ressurgimento de movimentos contra o governo do país, pois alguns entendem que existe uma clara discriminação entre a elite dominante e os campesinos, que se sentiam representados por Castillo, que na compreensão de alguns sofria uma perseguição política.
Nas figuras acima podemos ver que o ressurgimento e fortalecimento dos movimentos insurgentes poderá impactar no nosso país, e em outros como a Bolívia e o Chile.
Nesse sentido, com o agravamento da situação interna, estão ocorrendo discussões sobre a necessidade de realização de novas eleições e da elaboração de uma nova constituição.
Cabe frisar que na América do Sul os povos originários e as minorias estão ganhando maior visibilidade e peso político, como exemplos podemos citar os casos do Chile e do Equador. Logo, acreditamos que esse fenômeno também impacta o Peru, e que somente uma maior representatividade desses grupos no governo é que poderá apaziguar o país, diminuindo a rejeição ao congresso peruano.
É digno de nota que em virtude da concessão de asilo politico à família de Castillo pelo México foi estabelecida uma crise diplomática entre os países.
O Blog é de opinião que devemos acompanhar com atenção o desenrolar dos acontecimentos no nosso país vizinho, pois podemos ser impactados em nossas fronteiras. Além disso, acreditamos que o que vem acontecendo no Peru é um fenômeno que está ocorrendo em toda América do Sul, inclusive no Brasil.
Cabe verificar se a elite política peruana permitirá o surgimento de lideranças fora de Lima, ou se o país viverá novamente um período de violência interna.
Qual a sua opinião?
Seguem alguns vídeos para ajudar em nossa análise:
Matéria de 12/12/2022:
Matéria de 17/12/2022:
Matéria de 16/12/2022:
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