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A crise entre a Argélia e o Marrocos - mais um fator de instabilidade na África.


Figura disponível em: https://cdn01.allafrica.com/download/pic/main/main/csiid/00551720:68ec4df3a88c359473706676ed07e6fb:arc614x376:w1200.jpg

No dia 24 de agosto deste ano a Argélia cortou as relações diplomáticas com o seu vizinho Marrocos sob alegações de atitudes hostis deste contra o seu país, como: espionagem contra o governo argelino, por meio do software israelense Pegasus spyware, e apoio marroquino ao grupo insurgente separatista argelino, conhecido como Movement for Self-determination of Kabylie (MAK), que luta pela independência da região costeira e montanhosa da Cabília, e que teria sido o causador dos grandes incêndios que trouxeram enorme comoção ao país.

Figura disponível em: https://s.france24.com/media/display/e6057256-fb62-11eb-a02a-005056a90284/d6bda38ebba1bd10142fb930428412f8f63a6a7d.jpg

Porém, as relações entre os dois países, após as suas independências, sempre foram marcadas por períodos de tensão e crises. É digno de nota que a fronteira entre os países está fechada desde 1994

Um dos motivos da tensão refere-se a problemática do Saara Ocidental que luta pela sua independência, e que foi alvo de análise do nosso artigo "Israel e Marrocos: quarto acordo de normalização de relações e a guerra esquecida do Saara Ocidental", de 14 de dezembro de 2020 e disponível em https://www.atitoxavier.com/post/israel-e-marrocos-quarto-acordo-de-normalização-de-relações-e-a-guerra-esquecida-do-saara-ocidental, em que afirmamos que uma contrapartida para a concordância por parte do governo marroquino em normalizar as relações com Israel foi que os EUA reconhecessem a sua soberania sobre a região do Saara Ocidental. A região é alvo de disputa territorial entre a população local chamada saaraui (Sahrawi) e o governo marroquino desde que a Espanha se retirou de sua ex-colônia, em 1975, em que deixou o território sem governo. Dessa forma, os saaraui constituíram um movimento de independência denominado Polisario Front e estabeleceram, unilateralmente, a Sahrawi Arab Democratic Republic - SADR (República Árabe Saaraui Democrática, ou República Saaraui), onde o governo desde a sua proclamação encontra-se exilado na Argélia, e que apoia a Polisario Front. Convém mencionar que o reconhecimento da soberania marroquina pelos EUA no cenário internacional não altera o status do Saara Ocidental, que continua como um território em disputa, mas dá mais peso ao pleito do Marrocos. Além disso, também dissemos que em que pese a Argélia apoiar a Polisario Front seria muito pouco provável que haja um conflito entre os governos argelino e marroquino, devido a esses Estados terem muito a perder. Outro dado que relatamos foi que fontes revelaram, em 2018, que o Irã fornecia apoio logístico, por meio do Hezbollah, à Polisario Front com treinamento e fornecimento de armamento, o que levou o Marrocos a cancelar as relações diplomáticas com Teerã. Sendo assim, analistas relataram que a intenção era estabelecer um proxy iraniano na região. Ademais, historicamente o governo de Rabat possui laços com governo de Washington e com os países do Golfo, em especial com a Arábia Saudita.

Nesse sentido, a Argélia teme que o Marrocos receba apoio militar israelense, o que poderia desequilibrar o poderio bélico da região em favor do governo de Rabat.


Dessa forma, podemos ver que ambos os países apoiam grupos insurgentes para tentar desestabilizar o governo adversário. Com isso, vemos a Argélia apoiando a Polisario Front e o Marrocos apoiando o MAK. Destarte, observamos a estratégia de uso de proxies por ambos os países, com o intuito de atingir os seus objetivos geopolíticos.

Convém mencionar que o Marrocos tem no mercado ocidental o seu principal fornecedor de armamentos, enquanto a Argélia o mercado russo, denotando, também, uma disputa armamentista entre eles. Nesse diapasão, o que realmente acontece é uma disputa geopolítica entre a Argélia e o Marrocos pela liderança e o protagonismo da região do MAGREB. Tal região corresponde a parte noroeste do continente africano, sendo composta pelos seguintes países: Argélia, Marrocos, Tunísia, Mauritânia, Líbia e o território do Saara Ocidental.

Figura disponível em: https://studies.aljazeera.net/sites/default/files/migration/ResourceGallery/media/Images/2015/1/27//201512713453381580_19.jpg

Outra consequência dessa disputa pela liderança do MAGREB é que impede com que haja a integração da União do MAGREB Árabe - UMA que deveria funcionar como um bloco econômico possuidor de potencial para gerar riquezas para a região, bem como possibilitaria trazer estabilidade e segurança para essa parte do continente africano.

O Blog é de opinião de que a disputa pela hegemonia do MAGREB entre o Marrocos e a Argélia contribui para a instabilidade dessa região. Além disso, um possível apoio militar israelense ao governo marroquino poderá trazer mais instabilidade político-militar, bem como poderá fomentar uma aproximação do governo argelino com o Irã, trazendo a atual disputa do Oriente Médio para o MAGREB.

Outrossim, acreditamos que ambos os países continuarão a apoiar grupos insurgentes para tentar desestabilizar o governo adversário, e que por enquanto é baixa a probabilidade de um conflito de maior intensidade entre eles.

Qual a sua opinião?

Seguem os vídeos para auxiliar em nossa análise:

Matéria de 27/08/2021:

Matéria de 25/08/2021:

Matéria de 25/08/2021:

Matéria de 27/08/2021:

Matéria de 25/08/2021:

Matéria de 26/08/2021:

Matéria de 26/08/2021:


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