O ano de 2020 foi um ano desafiador para todos nós. Destacamos os principais eventos que marcaram, em nossa opinião, a geopolítica no cenário internacional e que impuseram vários desafios aos Estados:
pandemia da COVID-19, em que muitos achavam que se tratava de uma gripe sem maiores consequências, mas a gravidade da doença "dobrou" vários Chefes de Governo, separou muitas famílias e matou muitas pessoas. Ademais, promoveu uma corrida geopolítica para a descoberta da vacina, análoga a espacial, só que agora com 3 potências concorrendo ao "troféu": EUA, China e Rússia. Nessa disputa, foram promulgadas muitas notícias falsas, cunhando o termo infodemia, o que deixou as sociedades confusas sobre a origem, a prevenção e o tratamento da doença. Os países mais ricos demonstraram que os discursos de ajuda aos mais pobres continuam sendo falaciosos, pois compraram mais da metade da produção mundial das vacinas. Além disso, a pandemia agravou a desigualdade social, e deu origem a uma crise econômica mundial que terá impactos nos anos vindouros;
vimos a Turquia, com a sua política assertiva, ganhando destaque no cenário internacional e se firmando como um ator importante no Mediterrâneo Oriental, originando crises com a Grécia, França e Rússia;
China adotando uma postura mais agressiva com o intuito de cumprir a meta de realizar o "sonho chinês"até 2050. Nesse sentido, aproveitou o evento da pandemia para difundir e angariar mais parceiros para o projeto Belt and Road Iniciative, bem como tentando implementar a diplomacia da armadilha do débito;
os EUA tentando realizar uma contenção ao expansionismo geopolítico chinês no mundo, tendo como consequência o aumento das tensões com o governo de Pequim, especialmente no Mar do Sul da China, na crise sino-taiwanesa, e na região do Indo-Pacífico com a possibilidade da recriação da Primeira Esquadra;
Rússia se consolidando como uma ameaça à Europa, bem como realizando ataques cibernéticos onde quer que fosse interessante aos seus objetivos geopolíticos. Além disso, quer se afirmar no Mediterrâneo com as implementações de bases na Síria e no Sudão (com a possibilidade de operar no Indo-Pacífico e Golfo Pérsico);
a tensão entre o Irã e Israel chegando ao seu pior nível, devido ao desenvolvimento do programa nuclear iraniano;
tensão entre os EUA e o Irã elevando a insegurança na região do Golfo Pérsico;
a Guerra na Líbia sinalizou que os conflitos modernos terão a participação de mercenários, proxies de Estados extra-conflito e com interesses geopolíticos e, principalmente, o uso intensivo de drones;
o conflito entre a Armênia e o Azerbaijão ratificou que estamos entrando na era dos drones;
várias tensões no mundo originadas por disputas de áreas marítimas para exploração econômica;
Israel conseguindo, com a ajuda dos EUA, firmar acordos de normalização de relações com 4 países árabes;
América do Sul apresentando instabilidades políticas, e com uma sinalização de uma possível retorno da esquerda aos governos dos países do continente;
a OTAN tentando se reinventar, com maior autonomia e independência, diminuindo a grande dependência dos EUA;
França tentando liderar a União Europeia;
Reino Unido intenciona resgatar a importância de sua marinha e com isso tenta se firmar como uma potência europeia, se preparando para as consequências do BREXIT, como uma possível crise da atividade pesqueira em sua Zona Econômica Exclusiva que, a princípio, poderá não ser mais compartilhada com os outros países europeus, como a França;
a crise entre a China e a Austrália, em que o governo de Camberra "está entre a cruz e caldeirinha", em virtude da disputa geopolítica entre os EUA e a China, seu maior aliado e principal mercado, respectivamente. Tal fato é um estudo de caso para o nosso país para um cenário análogo, e que achamos que já está acontecendo;
o acirramento das relações entre a Índia e a China, ainda mais com a aproximação sino-paquistanesa;
o colapso do Líbano que poderá trazer novos atores para a região;
Guerra do Iêmen trazendo instabilidade para a região do Mar Vermelho;
formação de novas alianças, por região, com a finalidade de se contrapor a distintas ameaças, como as ameaças chinesa, iraniana e estadunidense;
a região do Ártico ganhando, novamente, destaque como uma região a ser disputada;
consolidação da aliança entre a Venezuela e o Irã;
aumento da tensão no Saara Ocidental;
Brasil perdido em sua política externa, não sendo pragmata, o que poderá levar o país a uma situação complicada no cenário internacional;
Entretanto, existem várias expectativas para 2021, como:
o novo governo dos EUA que poderá colocar na pauta questões importantes como a emergência climática, dentre outras. Além disso, existe a expectativa de que Joe Biden utilize políticas conciliatórias e que haja o retorno ao multilateralismo tendo os EUA como protagonista, diminuindo o espaço chinês. Porém, qualquer um dos resultados não deverá amenizar em curto e médio prazos a tensão geopolítica entre China e EUA, conforme analisamos no artigo "A influência das eleições estadunidenses na geopolítica pós-pandemia", disponível em https://www.atitoxavier.com/post/a-influência-das-eleições-estadunidenses-na-geopolítica-pós-pandemia. Acreditamos que o esse governo endurecerá as ações contra a Rússia;
controle da pandemia da COVID-19, trazendo a normalidade nas relações entre países e indivíduos;
renegociação do acordo nuclear iraniano que poderá distensionar a região do Oriente Médio;
consolidação de novos modelos de trabalho a distância;
novas negociações sobre a problemática do Saara Ocidental;
guerra cibernética e uso de drones ganharão cada vez mais destaque nos conflitos;
acirramento da nova bipolaridade do Oriente Médio entre o Irã e Israel;
disputa pelo espaço sideral.
O Blog é de opinião que o ano de 2020 foi bastante desgastante e tenso em todos os sentidos, e que havia uma expectativa de um maior número de conflitos armados, muito devido a disputa hegemônica entre os EUA e a China, além do fator russo de desestabilização.
Apesar da troca de comando dos EUA, não esperamos um mundo mais pacífico e menos desigual, pelo contrário, acreditamos que continuaremos vivenciando uma corrida armamentista, permanecendo o mundo mais imprevisível e menos seguro.
Em relação ao Brasil teremos vários desafios para 2021, devido ao governo brasileiro ter perdido o seu aliado estadunidense Donald Trump, e ao futuro governo Biden que dará destaque a temas em que não estamos dando prioridade, como a emergência climática, em que temos uma política difusa, e ao multilateralismo. Além disso, estamos vivenciando o início do que ocorreu na crise sino-australiana, sem termos estudado a nossa lição de casa. Ademais, teremos de enfrentar uma crise econômica iniciada neste ano, bem como o aumento da desigualdade social.
Neste momento do último artigo de 2020, concluímos como somos resilientes e que somente por meio da educação e do diálogo sadio é que poderemos evoluir e lançar as bases para um futuro melhor.
Dessa forma, agradeço aos leitores por suas contribuições, críticas construtivas, elogios e sugestões. Tentaremos melhorar cada vez mais em 2021.
Qual a sua análise sobre 2020 e as suas expectativas para 2021? O mundo será melhor?
Seguem alguns vídeos para as nossas análises:
Matéria de 18/12/2020:
Matéria de 14/12/2020:
Matéria de 11/12/2020:
Matéria de 02/12/2020:
Matéria de 20/12/2020:
Matéria de 18/11/2020:
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